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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Ser Nordestino é ser Brasileiro?




Raqueline da S. Santos 18/08/2014. Blumenau - SC, 10:29
Compartilhado por Liriane Barbosa...

Tem sido difícil acreditar que sou distinta da nacionalidade brasileira, por ser Nordestina.
Estou sendo sarcástica mesmo. O discurso segregante que permeia nosso país, ao nos identificar como a(o) NORDESTINA(O),  quando estamos em territórios distintos do nosso, me faz perceber quão preconceituoso é o povo brasileiro e quantas mentes atrasadas ainda temos nesse país.
É duro lidar com o novo, mas duro mesmo é lidar com o ar de superioridade que há nos seres humanos. Duro é acreditar que ainda existe nesse país pessoas as quais não compreendem as diferenças regionais e que fazem sua leitura de mundo a partir da mídia e acreditam que sabem tudo, ou que podem tudo. Hoje meu desabafo é de reflexão.
Pensar nas Regionalização do meu país é compreender os diversos territórios e povos que o constroem. É perceber que a riqueza desse país está nas cinco regiões que o constitui. Melhor ainda, é saber que cada região também tem suas próprias diferenças. Devo acreditar, mesmo que bem pouco, na mudança da valorização do Nordeste e do Nordestino em outras regiões deste país. Incrível como ainda há, de forma tão intensa, um preconceito cultural com o Nordeste. Região está que é "linda para passear, mais não serve para morar". A ideia dos tempos de migração ainda é muito forte. Muitos acreditam que os nordestinos ainda migram porque no Nordeste não tem oportunidade e isso gera uma aversão ao nosso povo. Para ficar claro, hoje o Nordeste  está investindo em sua modernização e ampliação. Já temos um avanço significativo no âmbito da educação e da economia. Segundo estudos de (Janguiê Diniz) se o "nordeste fosse uma economia independente ocuparíamos o 39° lugar no ranking mundial. Motivo de orgulho para nós que sempre acreditamos na potencialidade da região e de nosso povo. São dados que confirmam a decolagem do nordeste motivada pelos investimentos públicos e privados. Pois, fica evidente que o Nordeste tem um potencial de desenvolvimento econômico e cultural muito grande e que a centralidade no Sudeste e Sul deste país não nos deve colocarmos como uma região inferior constituídas (acreditam) de seres inferiores. 
O preconceito difundido pela mídia e incorporado por grande parte da população de outras regiões coloca-nos diante de uma posição que precisa ser discutida, esclarecida e debatida. Não é somente no Nordeste que existe miséria, pobreza, desemprego, violência, falta de infraestrutura. NAÕ É. As contradições do sistema em que vivemos permeia todo o território nacional. Esse território desigual que é controlado por grupos políticos, econômicos que controlam nossas vidas e nossa história.
Há um orgulho entre a população de outras regiões deste país contra o Nordeste que só hoje consigo entender. Ariano Suassuna já alertava em sua frase :"é muito difícil você vencer a injustiça secular, que dilacera o Brasil em dois países distintos: o país dos privilegiados e o país dos despossuídos”. Bem, somos o país dos despossuídos que devemos lutar contra a opressão que direciona-se ao nosso povo e a nossa região. 
Infelizmente temos muito preconceito sobre nós. Contudo, não podemos baixar nossa cabeça frente a esse desrespeito secular ao povo Nordestino. Para minha tristeza tenho sentido na pele a força da minha identidade Nordestina. A força da não aceitação, da recusa, da aversão. Há uma desconsideração enorme ao nosso povo. As falas carregadas de preconceito só me fortalecem para mostrar que o Nordeste é muito mais do que a mídia passa ou do que imaginam sem nunca ter ido lá. Como posso me calar? Não, eu não me calo, eu falo. Eu enfrento, eu derrubo, eu abuso. Pois, além de NORDESTINA, sou Brasileira. Faço parte desta nação que é constituída de CINCO REGIÕES. Se fossem duas eu entenderia, mais são CINCO. Destas, faço parte de uma cuja brasilidade é extrema. Temos uma diversidade de povos, de culturas. Somos, assim como vocês, parte deste território brasileiro. Somos um povo que levamos esse preconceito durante anos mais que não nos calamos mais. ENFRENTAMOS. E nesse enfrentamento, eu me orgulho em dizer que todos nós : nortistas, sulistas, centro-oestistas, sudestinos e nordestinos construímos e vivemos em um país multicultural cujo preconceito vai sendo derrubado aos poucos quando enfrentamos a mediocridade da mente humana. O respeito, a simplicidade, a humildade é encontrada em poucos. Por este motivo eu me orgulho em ser NORDESTINA. Essa expressão não me faz segregar os outros povos de regiões diferentes, pelo contrário ela surge como reação a mensagens discriminatórias e xenófobas que são constatemente direcionadas a nós por pessoas que não compreendem a regionalização do Brasil. Os discursos discriminatórios que nos fazem sentir vergonha de nos afirmarmos nordestinos, quer nos impor a ideia de que somos diferentes dos brasileiros, como diz Osvaldo Castro. Essa ilação mesmo que destituída de uma análise profunda me faz perceber que, antes de tudo, a arrogância e o sentido de superioridade de alguns de outras regiões do país, deve nos fortalecer para ir contra esse poder de distinção colocado sobre nós, que devemos nos orgulhar e buscar compreender cada dia mais a riqueza do nosso território Nordestino. Desta forma, eu falo contra toda opressão e xenofobia que me ORGULHO EM SER NORDESTINA .
 Raqueline da S. Santos 18/08/2014. Blumenau - SC, 10:29
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Pós-Doutorando pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPUR/UFRJ); Doutor em Geografia pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Maringá (PGE-UEM); Pesquisador do Grupo de Estudos Urbanos (GEUR/UEM) e do Observatório das Metrópoles (UFRJ e UEM). Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR); Consultor da UNESCO/MEC; Conselheiro no Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial (CMPGT) de Maringá (PR) e Delegado da Assembléia de Planejamento e Gestão Territorial 5 (APGT-5) de Maringá (PR).
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